Wanderlino
Arruda
Em um curso de oratória
que tive oportunidade de ministrar
para vinte participantes,
na Academia Montes-clarense
de Letras, vivi poucos dias
e muitas horas de intenso
labor dirigido aos objetivos
do mais gratificante prisma
da comunicação.
É que o falar em público,
a arte da eloqüência,
o verdadeiro discurso, aquele
que agrada e gratifica a quem
fala e a quem ouve, é
indiscutivelmente uma realização
pessoal, sempre recebido com
prazer e, muitas vezes, com
emoção. Difícil
de acontecer, porque, resultado
de dom, de cultura, de domínio
lingüístico e
de longo treinamento, a oratória
legítima fica a cada
dia mais distante de se encontrar.
Há os que falam com
brilhantismo e beleza, os
que dão vida às
frases e períodos,
criando o ambiente receptivo,
estabelecendo os liames da
verdadeira compreensão.
Estes trabalham mais achegados
no campo da arte ao gerar
novas possibilidades no manejo
do pensamento, plasmando formas,
movimentos, cores, oferecendo
novas imagens à inteligência.
Há também os
que, sem conseguir a perfeição
da forma, alcançam
a melhoria do entendimento,
transmitido e comunicando
com segurança a cultura
e o saber, voltados mais para
a ciência da didática
e da informação.
Estes mais professores do
que artistas, mais objetivos
e pragmáticos, são
os informadores e formadores
do conhecimento.
Não sei a quem atribuir
o mérito maior, já
que o mundo é uma composição
de ciência e de arte,
de engenho e beleza. O pensamento,
abstrato para quem só
sabe pensar, mas muitissimamente
concreto para os que materializam
a palavra, em qualquer de
suas formas, será sempre
objeto de curiosidade e de
interesse sincero. É
através dele que se
verificam a aprendizagem,
a compreensão, o entendimento,
bem como as possibilidades
de análise, síntese
e de crítica, coordenadas
construtoras de todos os elementos
civilizatórios. Na
verdade, o mundo, em todo
processamento histórico,
vem sendo construído,
em primeiro lugar, pela força
das idéias, pela projeção
do raciocínio dos grandes
líderes de todos os
tempos.
Creio, sinceramente, que Juscelino
Kubitschek, o grande modificador
das estruturas do progresso
brasileiro, o homem de fronteiras,
o bandeirante do otimismo,
realizou muito mais pela força
da retórica do que
propriamente pelo dinamismo
do trabalho. Sua palavra,
clara, direta e bonita, era
uma receptiva usina de coragem
e decisão, plasmadora
de patriotismo, convincente,
agradável de ser ouvida
e, sobretudo, confiável
e confiante. Um presidente
de todos os lugares e de todas
as pessoas, festivo nos contatos
e sério nas decisões,
soube liderar, escutando com
paciência e falando
com entusiasmo. Sua palavra
rasgou mais territórios
do que os tratores das construtoras,
e desbastou e esculpiu e cinzelou
uma nova realidade.
Assim, palavra vai e palavra
vem, é bom acreditar
nela, convencer-se da sua
força, sentir todo
o seu poder. É necessário,
pois, estudá-la, vivê-la,
acostumar-se ao seu fascínio.
Não nos esqueçamos
de que foi com o exemplo e
com a palavra que um humilde
carpinteiro da Galiléia
modificou a história
da humanidade.
Instituto
Histórico e Geográfico
de Montes Claros