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Manoel Hygino dos Santos

Sobre o Centenário de Belo Horizonte

12 de dezembro de l897, 12 de dezembro de 1997. Cem anos entre as datas. Durante o período, ergueu-se uma cidade que acolhe acima do que admitiam os planejadores da nova capital. Diante das profundas transformações, os que aqui chegaram, no decorrer do século transcorrido, vieram pôr ordem à antiga paisagem. Daqueles tempos memoráveis, apenas lembranças crescentemente frágeis, fotos nos álbuns familiares, ou aquelas outras preservadas em obras, entre as quais as recentemente lançadas, que não faltarão às pessoas que amaram e amam Belo Horizonte.

Os morros, que cercam a cidade imaginada por Aarão Reis, vão sendo tomadas por mansões, edifícios de apartamentos, mas também barracos. A questão social não se resolveu aqui ou alhures produzindo problemas permanentemente agravados.

Não é este, porém, o momento próprio a considerações desse jaez. Quereria falar da capital - grande, próspera e feliz - que sonhamos para nós mesmos e para nossos sucessores. O mesmo terão desejado aqueles que nos antecederam na curta passagem pelo espaço terreno.

Cada um ofereceu o seu quinhão, embora os excluídos, pelo simples fato de o serem, não puderam participar da grande construção. A cidade, o estado, a nação é resultado de esforço coletivo, permanente, interessado. Para essa obra colaboramos até automaticamente, sem nos fixarmos na importância da doação nem sempre espontânea. Ajudamos com uma linha ou crônica de jornal, com o tributo recolhido ao erário.

Construção humana, as cidades - não resultam de um único operário. Isoladamente, só, o homem é imensamente mais vulnerável e efêmero. Somente unidos conseguimos erguer a aldeia, a que Tolstoi se referia. Quantas pessoas terão, ao longo de tantos anos, desde bem antes da inauguração desta sede de Governo mineiro, participado do grande empreendimento ? Quantos milhões deixaram aqui o seu quinhão, anonimamente ?

As festas de 12 de dezembro de l897 estão muito longe no tempo. Restam os registros de Abílio Barreto, resgatados e transcritos por tantos que nele se amparam para estudos e obras múltiplas. "A Capital", de Avelino Fóscolo, primeiro romance sobre a cidade desde antes de fazer-se núcleo de administração estadual, oferecerá também preciosa impressão dos dias de implantação do projeto.