Por
mais que eu procure explicação para mim mesmo,
não compreendo porque demorei tanto na análise
e revisão da produção poética
de Wagner Durães. Há mais de dois anos, tenho
praticamente sobre a mesa do escritório os originais
dos seus poemas, vejo-os e revejo-os, gosto muito de todos
eles, mas nunca coloco a profundidade de exame, a ponto de
dar a tarefa por terminada. Quantas vezes não ensaiei
explicações a Juvenal e a Rosa, desculpando-me
pelo atraso, e acabei não falando nada! Quantas vezes
tentei iniciar este comentário e não me foi
possível! Não sei e não sei, são
as incógnitas do destino ou da própria vida.
Mas não choremos o leite derramado, que choro nenhum
devolve o leite à leiteira. Vamos em frente.
Wagner
foi um jovem de muita fé, muita segurança íntima,
um crente fiel na sua destinação de pregar a
si mesmo e aos outros as maravilhas da existência de
Deus. Um Deus bem justo. Era uma que nasce à beira
do caminho mescladas de interogações, no geral,
sempre afirmativa, concludente da onipotência, da onisciência
e, sobretudo, da onipresença do Criador dos mundos.
“Às vezes, penso que o Senhor errou. Por isso
lhe peço perdão. Mas que eu, antes de entender,
confio no Senhor e no amor que me faz pensar assim. Sou muito
feliz, Deus! Entendo tudo agora. E que em todos os meus erros,
eu esteja tentando acertar”.
De
grande riqueza temática, inclusive nas composições
musicais de parceria com Luciano, Chico e Claudionor, Wagner
quase sempre se apresentou otimista, numa solidão poética
muito próxima de uma espécie de paraíso
perdido, assim como que um saudade atávica e uma busca
constante da felicidade ao mesmo tempo distante e à
mão. A Deus pedia na constância da humildade
o pão da alegria, a pureza de sentimentos, estivesse
falando da fé religiosa ou da namorada. “Eu não
gosto de ficar triste. Sempre fui enganado pela claridade
da lua. Agora aparece o sol. Nao vejo direito, meu entusiasmo
me cega. Que eu esteja certo, e que toda a sabedoria do mundo
ouse me condenar. E que ela esteja errada. E mais, que as
luzes do sol e da lua juntas, esse amor ilumine, e me mostre
o caminho, para que eu chegue até você, Deus”.
Veja
você um bilhete que ele intitula de “Meu Amor”.
A poesia existe. Ela sempre existiu. Nunca foi perdida, nunca
foi tirada, sempre existiu. Talvez, os corações
impuros pensem ao contrário. Talvez, as almas vazias
acreditem no contrário. Mas, eles estão errados.
Você me ama, eles são insensíveis a isto.
Eu a amo, eles continuam insensíveis. Se você
sonha me ter a vida toda e também pela eternidade a
fora, eles não conseguem perceber e então não
devemos nos entristecer. Isto nao pode nos afetar, senão,
seria uma prova de que nós não somos evoluidos
ainda. Meu amor, a poesia existe, pois o amor existe entre
nõs e o amor é a única poesia possível.
As outras são falsas, não existem”. (15.01.81)
Não
deve demorar muito a publicação de todos os
escritos de Wagner Durães, que passou para o Mundo
Maior aos vinte anos, deixando muita saudade e um importante
ideário de crença em Deus. Em tudo há
poesia, desde que começou a escrever com intenções
de escritor de 13 anos. Sua vida, nem precisa dizer, foi um
hino de amor à família, aos amigos, à
namorada e à humanidade. Viveu pouco em termos de calendário,
mas cumpriu um destino. O destino de deixar palavras de conforto
e sabedoria.
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