Creio que o grande laboratório de idéias a usina
dos sonhos tenha sido mesmo as salas de aulas da Universidade
Federal de Minas Gerais, onde moças montesclarenses
terminavam diferentes cursos, tão distantes uns dos
outros que iam da História à Pedagogia, das
Letras à Matemática, da Geografia às
Ciências Sociais. Diplomatas, portadoras de muito saber
e incentivo de antigos professores da capital, Isabel Rebelo
de Paula, as irmãs Baby e Mary Figueiredo, Sônia
Quadros Lopes, Florinda Ramos Marques, Dalva Santiago de Paula,
ansiosamente, se uniram a outros idealistas, e o resultado
foi o nascimento da Faculdade de Filosofia, Ciências
e Letras do Norte de Minas aqui em Montes Claros. Verdade
é que não houve oposição ao seu
trabalho e até não faltou crédito ou
aquele sempre necessário voto de confiança.
Todo mundo acreditou nelas, com o Colégio Imaculada
Conceição cedendo espaço físico
e moral, a Fundação Educacional Luiz de Paula
fornecendo recursos e entusiasmo, professores como Jorge Ponciano
Ribeiro, dando logo a sua quota de serviços.
Foi
uma beleza o começo, um sucesso o primeiro cursinho
de Montes Claros. Lembro-me bem, da primeira aula de francês
que tivemos com a professora Baby Figueiredo, com texto solto,
impresso fora de livro, uma novidade! Lembro-me do Adélia
Miranda elaborando, como secretária, os primeiros relatórios,
apertando os primeiros alunos retardatários para não
atrasarem no pagamento das mensalidades ou início das
aulas. Era uma experiência interessantíssima
com passagens de se emocionar!
Era
tanta sabedoria nova, um conhecimento tão organizado,
uma perspectiva de aprendizagem tão grande, que problemas
apareciam a toda hora, todos querendo aproveitar de tudo,
sorver de vez todo um alimento que por não existir
antes, estava sendo negado a quem muito o desejava. Acontecia
então o troca-troca de salas, uma espécie de
mineração de assuntos, um descobrir quem era
o melhor professor um abeberar de toda uma nova filosofia
de vida. Não posso contar tudo sobre as aulas de nossos
cursos, nos primeiros dias do semestre, porque os acontecimentos
vinham aos borbotões, quase sufocando a curiosidade,
até confundindo as cabeças. Era como se fosse
um vasto ciclo de conferências de palestras, um eterno
comício. Hamilton Lopes, calouro, ensaiava os primeiros
passos da política estudantil, João Valle Maurício,
José Nunes Mourão, Hélio Vale Moreira,
Mauro Machado Borges, alunos mais vividos, mostravam uma compenetração
pouco natural de estudantes. D. Yvonne Silveira, esta numa
santa vaidade de literata, se desmanchava em sorrisos e sutilezas
numa alegria quase infantil.
Tudo
foi uma longa festa intelectual, uma corrida de muita sede
à fonte, todos considerando um grande privilégio,
uma oportunidade a mais de vencer na vida, em campos profissionais
já longamente seguidos. Pela primeira vez, vimos professorinhas
ensinando para ver elenco de construtores do futuro!
Olhado
de longe, vinte e sete anos depois, quase uma loucura. Mas
que maravilhosa loucura! Que o diga Isabel Rebelo de Paula,
a primeira diretora.
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